Arte para ver e sentir

08/10/2011 às 00:00 por Viviane Franco

 

A arte capta a essência da sociedade, característica que a transforma em um dos melhores canais de ações transformadoras. Com foco na inclusão social das pessoas com necessidades especiais, o SESC realiza a Exposição Coletiva “Lições para Ler um Corpo”, de 10 a 31 de outubro, na Galeria de Arte do SESC, no horário das 8h às 17h30, com uma produção composta por artes híbridas: esculturas, fotografias e pinturas combinadas à linguagem do braille.

A exposição, produto do projeto Mãos à Obra, pode ser apreciada por pessoas com necessidades especiais e o público em geral. Os visitantes viajam no universo artístico, explorando texturas, relevos e palavras em braille por meio do tato. Com o auxílio de uma venda e um guia, as pessoas sem deficiência podem visualizar a arte sob uma óptica ampla e conjugada. Desse modo, as formas visuais ganham novos traços e significados. O braille, disposto ao longo do corpo das obras, transforma-se em arte e em poesia: imagens permeadas de palavras simbólicas.

A artista Nelma Rolande trabalhou a proposta utilizando fotografias ornamentadas por poesias, de sua autoria, escritas em braille. Com o título “Retratos em poesia”, ela trabalha a dialética da imagem e palavras, explorando forma e conteúdo de uma maneira inovadora.

Márcio Boas, estudante de música, conta a dificuldade de apreciar a arte por outros sentidos. ”Interagir com a obra sem utilizar a visão é muito mais difícil do que se possa imaginar. Reconhecer as formas foi uma tarefa árdua, mas edificadora. A partir das dificuldades que encontrei, pude mensurar a batalha diária dos deficientes visuais”, revelou.

As esculturas, que figuram corpos masculinos e femininos, trazem as marcas do braille em seus desenhos. Na cintura da mulher, a frase “Para descrever curvas” projeta uma perspectiva reflexiva sobre o objeto. Segundo José Raimundo Júnior, responsável pela criação, a palavra se funde à representação do corpo, complementando o seu sentido. Além das peças, o artista também produziu pinturas em acrílico, com poemas se misturando às figuras.

Isabel Mendonça, responsável pela produção das mandalas em alto relevo, explica que essa forma artística tem como característica específica a coexistência de várias formas em uma, o que por si só já garante uma interpretação aberta. A adição do braille como forma abstrata enriquece a experiência e amplia as fronteiras da própria arte.

Além da exposição, a programação do projeto inclui a realização de Oficina para Educadores, a Exibição de Filmes para os voluntários do projeto Arteprata e alunos do ensino fundamental, Palestras de Experiências para interessados e dois workshops com os temas “Libras – Uma conversa possível” e “Mediação Cultural que faz diferença”.


“Meus olhos ouvem
Minhas mãos falam
Meus ouvidos vêem
Sendo incompleto
Me completo
Toco querendo tocar
Arranjos e melodias
Cantigas de ninar
Cadeira que eu giro
Roda de cadeira”

Nelma Rolande

 

Texto: Amanda Machado / Fotos: Francisco das Chagas Silva Souto