Lançamento do Palco Giratório 2012 em Fortaleza

02/04/2012 às 00:00 por Viviane Franco

 A capital cearense foi a cicerone de um dos maiores projetos de artes cênicas do Brasil, na noite do último sábado, 31, com o lançamento do Projeto Palco Giratório, um projeto do SESC Nacional que promove apresentações culturais itinerantes como forma de difundir a dramaturgia e incentivar o intercâmbio de informações entre os grupos participantes. O projeto que em 2012 completa 15 anos, teve como palco de sua 1ª apresentação do ano, o centenário teatro José de Alencar e contou com a presença do Presidente do Conselho Regional do SESC Ceará, Luis Gastão Bittencurt, da Diretora Regional do SESC Ceará, Regina Leitão, do Secretário de Estado da Cultura, Francisco Pinheiro, da Diretora Regional do SESC Maranhão, Remédios Pereira, da Gerente de Cultura Márcia Leite, do Coordenador Nacional do Palco Giratório, Marcos Rego, de representantes do SESC de todo o Brasil, além do público que lotou o teatro José de Alencar.

 

A noite teve início com uma entrevista coletiva, onde o Coordenador Nacional do Palco Giratório, Marcos Rego, falou sobre todo o processo de realização do projeto, abordando desde a seleção dos grupos que circulam a cada edição, até a repercussão do público ao longo desses 15 anos de itinerância do projeto. Marcos Rego ressaltou ainda o intercâmbio de experiências que o projeto propicia aos artistas, contribuindo para o crescimento e reflexão de cada grupo e acima de tudo, para a difusão das artes cênicas em todo o Brasil – “a gente de fato está escrevendo importantes páginas da história do teatro brasileiro” – enfatiza Marcos.

 

Após a coletiva, os convidados se dirigiram ao palco principal do Teatro José de Alencar, onde o público que já lotava o espaço, esperava ansioso pelo início da 1ª apresentação do Palco Giratório 2012. Antes o público pôde assistir a um vídeo de retrospectiva dos 15 anos do Palco Giratório. Logo após o Presidente do Conselho do SESC, Luis Gastão Bittencurt, a Gerente de Cultura do Departamento Nacional, Márcia Leite e o Secretário de Estado da Cultura, Francisco Pinheiro, subiram ao palco para agradecer o público presente e falar sobre a relevância do projeto Palco Giratório. O presidente do Conselho Regional do SESC Ceará, Luis Gastão, enfatizou o caráter democrático do projeto, que além de incentivar a cultura, facilita o acesso de diferentes públicos às artes cênicas – “é importante ressaltar que o Palco Giratório se caracteriza como um agente transformador das políticas públicas na área cultural, e vem contribuindo para a democratização da cultura”.

 

Márcia Leite, Gerente de Cultura do Departamento Nacional, também enfatizou o caráter inclusivo do Palco Giratório e falou sobre o porquê do SESC ter escolhido a cultura como uma de suas prioridades. – “O SESC é um instituição educativa. No Brasil inteiro o SESC faz cultura e isso significa contribuir para a difusão da cultura, é uma provocação também aos estados brasileiros para a implementação de políticas culturais inclusivas”.

 

Após os devidos agradecimentos, o público conferiu de perto a performance dos artistas da Companhia Mário Nascimento, que apresentaram o espetáculo de dança Escapada. A companhia levou para a cena, dança, música e teatro, além de momentos de pura improvisação, para mostrar ao público sua visão sobre personagens que se apresentam constantemente em fuga.

 

Para quem prestigiou o evento essa foi uma oportunidade de assistir a um espetáculo de qualidade, e ao mesmo tempo, estar em um ambiente cultura, como é o teatro José de Alencar, um monumento nacional. Segundo a cearense Thays Cleiane Maciel, 23 anos, estudante de pedagogia, visitando pela 1ª vez um teatro, o Palco Giratório é uma excelente iniciativa do SESC, pois dá oportunidade ao público, que nem sempre dispõe de recursos financeiros, de participar de uma atividade cultural. “O SESC sendo uma instituição de credibilidade, contribui com esse projeto para o contato com outras idéias, propiciando um novo olhar ao seu público, pois como já disse Albert Einstein, a mente que se abre a uma nova idéias, jamais voltará ao seu tamanho original”.

 

O público que aplaudiu de pé o espetáculo Escapada, participou ainda de um coquetel de encerramento do evento.

 

 Palco Giratório 2012
 
 
Em sua 15º edição,o projeto contou com mais de 170 grupos teatrais, realizando aproximadamente 5 mil apresentações. Este ano, é a primeira vez que o Maranhão participa do circuito, com a Pequena Companhia de Teatro que percorrerá o Brasil com o espetáculo “Pai e Filho”. 
 
 
Além dos espetáculos itinerantes, o projeto Palco Giratório conta com festivais realizados em 9 capitais brasileiras, com apresentações de todos os 23 espetáculo do circuito, durante 30 dias, além das aldeias locais. Esse ano serão apresentados 16 espetáculos, sendo que o Maranhão pela primeiras teve um espetáculo selecionado para compor a programação anual, com o espetáculo Pai & Filho, da Pequena Companhia de Teatro.
 
 
O Palco Giratório vai além das apresentações. Mais do que circular as diferentes produções em todo o país, o intercâmbio dos grupos, que percorrem estados diferentes da sua costumeira área de atuação, proporciona uma experiência rica e construtiva para os artistas. Além da troca de informações e metodologias de trabalho, o Palco Giratório promove também a interação dos artistas com o público, por meio de conversas, oficinas e debates que ampliam o conhecimento sobre o processo de criação no universo das artes cênicas. 
 
 
Na edição 2012, o Palco vai percorrer 122 cidades com 23 espetáculos, totalizando 701 apresentações até o final do ano. Em São Luís, a primeira apresentação acontece no dia 15 de abril, às 19h, no Teatro João do Vale, com Espetáculo Dia Desmanchado com o grupo Teatro Torto, Porto Alegre (RS). Os ingressos podem ser trocados por 1kg de alimento não perecível na bilheteria do teatro 1h antes do espetáculo.
 
 
 
Nos dias 16, 17 e 18 de abril, no horário de 14h às 18h, na sala de dança do Teatro Arthur Azevedo, acontece ainda a oficina O Ator Criador, que tem como objetivo analisar e experimentar técnicas que estimulem a autonomia criativa do ator a partir de princípios do treinamento físico desenvolvido pelo Teatro Torto.
 
 
Pai & Filho
 
A montagem de “Pai & Filho” é inspirada na obra Carta ao Pai de Franz Kafka, personagem que escreve uma carta ao seu pai tirano, explicando porque sente tanto medo dele, mas que não consegue fazer com que a publicação chegue às suas mãos. Durante toda a longa narrativa, fala da sua infância, emoções e consequências do pesado ambiente familiar.
 
 A peça recria com fidelidade o clima de opressão desencadeado pela constituição hierárquica da família Kafka, com foco central na figura paterna, que monopoliza as vontades e opiniões. A encenação sobre o homem reprimido que não consegue estabelecer um diálogo com pai, levanta uma discussão sobre os conflitos de geração e a fragilidade humana.
 
“Pai & Filho” foi contemplada no prêmio Myriam Muniz de Teatro 2009 para montagem e 2010 para circulação, patrocinado pela FUNARTE, Ministério da Cultura e
 
Governo Federal, e com o apoio do SESC, e no dia 9 de abril completa dois anos de circulação. De acordo com um levantamento realizado pelo grupo no início de fevereiro, antes mesmo de completar 2 anos, o espetáculo acumula 54 apresentações. Foi apresentado em 14 teatros e em 8 espaços alternativos. Foram 50 récitas com entrada franca e apenas 4 pagas. Esteve em 20 cidades (Santos, Presidente Prudente, Rio de Janeiro, Belém, Castanhal, Palmas, Porto Nacional, Teresina, Parnaíba, Fortaleza, Sobral, Guaramiranga, Mossoró, Natal, São Luís, Imperatriz, Balsas, Riachão, Santa Inês e Timon) de 8 estados brasileiros (SP, RJ, CE, PA, PI, TO, MA e RN). Participou de 8 festivais e mostras (FENTEPP, FNT, Festival Agosto de Teatro, FestLuso, FESTA, Mostra SESC Guajajara de Artes, Festival de Teatro do Rio e a Semana do Teatro no Maranhão). Ganhou 8 prêmios (Espetáculo, Direção, Texto, Ator, Produção, Figurino e Cenário duas vezes), além dos 2 prêmios Myriam Muniz, e foi visto por 3.352 pessoas. E o Palco Giratório ainda nem começou. Pai & Filho se prepara para encarar outras 30 cidades.
 
Além do espetáculo teatral, o grupo ministra a oficina “O Quadro de Antagônicos como instrumento de treinamento para o ator”. Ela foi contemplada pelo Prêmio Myriam Muniz de Teatro e foi realizada em doze cidades de seis estados do norte e nordeste do país. Os integrantes contam que a experiência de ministrar a oficina foi instigante e os auxiliou a perceber como as pessoas compreendem o processo de formação do espetáculo. “Uma gama significativa de pessoas demonstrou claro entendimento do nosso "sistema", dialogando, discutindo e encontrando referenciais para que a troca fosse o mais fértil possível. Turmas como as de Teresina e Natal buscaram além do conteúdo das três jornadas que compunha o treinamento e procuraram aprofundar o entendimento em diálogos informais ou nos debates”, explica Marcelo Flecha, responsável pela direção e concepção.
  
Segundo os atores,o principal objetivo da oficina é democratizar o caminho da criação e produção teatral. “Quantas vezes vi um espetáculo e fiquei morrendo de vontade de saber como eles conseguiram aquilo? Aquele prazer de ir além da observação e conhecer os meandros da construção. Por isso insistimos nos debates e nas oficinas, para que os mais curiosos encontrem um espaço para poder dialogar. Não podemos obrigar os outros a nos mostrar como fazem, mas podemos mostrar para os outros como fazemos”, esclarece Marcelo.
 
Os espetáculos da Companhia maranhense são desenvolvidos para dispensar os recursos técnicos oferecidos pelos os espaços das apresentações. Elementos como cenário, iluminação artesanal e sonoplastia estão incluídos nas encenações e tornam a peça adaptável a qualquer palco.
 
No primeiro semestre, os estados do Maranhão, Ceará, Rio de Janeiro, Alagoas, Espírito Santo, Porto Alegre, Mato Grosso, Bahia, Pernambuco, Macapá, Santa Catarina e Paraná recebem o espetáculo “Pai & Filho”. No segundo semestre o grupo percorre São Paulo, Minas Gerais, Rondônia e novamente Santa Catarina, Paraná e Maranhão.
 
A Pequena Cia está em atividade desde 2005, sendo dirigida por Marcelo Flecha, apresenta por Cláudio Marconcine e Jorge Choairy e produzida por Kátia Lopes.
 
 
Texto: Viviane Franco e Amanda Machado