A arte contemporânea do graffiti aberta ao público na Galeria do SESC

15/05/2012 às 00:00 por Viviane Franco

 Estudantes, grafiteiros, representantes do movimento hip hop e curiosos lotaram a Galeria de Arte do SESC na abertura da exposição “4Cem Traços e Cores de São Luís”, na última sexta, dia 11. O graffiti despertou o interesse do público maranhense que foi conferir de perto a sinuosidade, criatividade, linhas marcantes e intervenções inusitadas dos artistas Edi Bruzaca, OVNI e Gil Peniel. Com homenagens aos 400 anos de São Luís nas paredes da Galeria, além de criações em telas, telhas, shape, compensados, sandália e nas próprias latas de spray, a mostra fica aberta ao público até o dia até 30 de maio, das 8h30 às 17h30.

Logo na entrada, os visitantes são recebidos por um mundo de cores, representações, e intervenções artísticas. Utilizando toda a extensão das paredes do hall principal da Galeria, as obras retrataram as belezas, principais lendas da capital e exaltam a cultura maranhense.
A criação de Edi Bruzaca traz a lenda da serpente mistificada. Realizando uma intervenção, o artista a transformou em um belo dragão. As terras suspensas por sprays retratam a ilha de São Luís, com seus casarões, e, ao mesmo tempo, exaltam a arte de grafitar como o pilar de sustentação do criador. Traço peculiar nas obras do grafiteiro, o personagem “pescador de sonhos” representa o seu sonho de viver pela arte. Ele sempre está em busca desse belo peixe nas águas revoltas da vida.
A estudante Ester Moura, de 18 anos ficou bastante surpresa com a exposição. “Eu tinha uma visão distorcida do graffiti. Achava que era um tipo de pichação, mas essa exposição me provou que estava totalmente equivocada. O que vi hoje aqui é arte pura”, conta.
Amante da música popular maranhense, OVNI mistura sua paixão com outros elementos culturais e naturais da terra. Inspirado na música de Carlinhos Veloz intitulada “Ilha Bela”, exaltou a ilha do amor com uma sereia que apresenta uma riqueza de detalhes, cores e significados.
Bruna Caldas, estudante de 17 anos, disse que as ideias propostas nas obras são muito interessantes e abordam de forma crítica a sociedade. Ela, que teve a oportunidade de fazer uma oficina de grafitagem com Edi Bruzaca, quando estudava no colégio Estado de Alagoas, ficou surpresa com outra desconhecida prática dos grafiteiros: a reciclagem.
Utilizando técnicas de customização, os artistas transformam as latas de spray em objetos decorativos, reaproveitando o material de forma criativa. Além das latas, está à disposição do público a arte em telhas, shape, compensados e até sandália. Segundo os artistas, eles podem transformar qualquer material em arte.
 
As dificuldades do fazer graffiti em São Luís
Apesar de atualmente já ser considerado uma arte contemporânea, o graffiti ainda enfrenta muitas dificuldades para se estabelecer na cidade. Discriminação, pouco incentivo e artes apagadas para dar lugar a anúncios publicitários dificultam o trabalho dos artistas. “O material com o qual trabalhamos é caro, mas poucas vezes recebemos ajuda. Esperamos que com essa oportunidade que o SESC deu à classe, porque aqui representamos todos os grafiteiros do Maranhão, possamos mostrar que somos artistas que transformam várias técnicas em uma só. Muros que hoje são tomados pela pichação, poderiam estar cheios de vida, cores e mensagens. Falta investimento e profissionalização para artistas excelentes que permanecem no anonimato”, afirma o artista Gil Peniel.
Natty Dread, arte-educador carioca que há 3 anos reside em São Luís, conta que esse tipo de manifestação ainda é uma novidade aqui, mas em outros estados e no mundo o graffiti é encontrado inclusive em museus. Ele parabeniza o SESC pela iniciativa e defende que o nível da produção local é alto. “O graffiti do Maranhão é um patrimônio que ainda não foi descoberto. Esse é o momento da sociedade abrir espaço para essa gama de artistas talentosos. A produção brasileira é considerada uma das melhores do mundo e os grafiteiros maranhenses fazem parte dessa realidade”, afirma.
 
Do Maranhão para o Mundo
Contando com a participação de grafiteiros de 11 estados brasileiros, da América Latina (Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai, Venezuela) e da Europa (Alemanha e Inglaterra), Edi foi o único maranhense selecionado para participar do Encontro Internacional de Graffiti, que aconteceu dia 8 de abril, em Curitiba.
Com sete anos dedicados ao graffiti, Edi Bruzaca já fez intercâmbio cultural no Rio de Janeiro, São Paulo, Piauí, Pernambuco e Pará e pretende ir além. “Quando descobri o graffiti, não sabia desenhar e nem pintar, mas a paixão me levou a superar todos esses obstáculos. Acredito na minha arte, acredito no meu sonho. Quero levar o Maranhão para o mundo”, revela.